Nendú é uma plataforma online que visa a criação de um arquivo online dedicado à apresentação e mapeamento de artistas sonor@s brasileir@s, com base nos seguintes objetivos:
1) a criação de um ‘espaço’ de disseminação e conhecimento da prática local;
2) o instigar de conversas ou processos de documentação que ilustrem processos individuais de criação;
3) o arquivo como ferramenta de pesquisa;
4) a criação de um relato histórico e crítico sobre arte sonora brasileira.
O primeiro elemento diz respeito à criação de um mapa. Uma cartografia online dos ‘praticantes’ deste tipo de fazer artístico no qual é possível fazer uma navegação geográfica e por categorias: designações de práticas que percorrem o imaginário actual da historiografia e reflexão sobre arte sonora.
Um imaginário que reflecte um território rizomático, um lugar poroso que ecoa a óbvia especificidade da experiência e apresentação de trabalhos que soam — em termos temporais, espaciais ou formais — mas que não exclui a ligação prática, conceptual e histórica à música, arquitetura, performance ou artes visuais. Esta ‘sensibilidade’ ou expressão interdisciplinar reflete o processo de seleção que passou por uma pesquisa individual, mas também por contatos a curador@s, amig@s ou pesquisador@s; um processo que se encontra aberto até ao final do projeto, a qualquer indivídu@ que queira fazer parte deste repositório. Esta abertura possibilita um diálogo entre o ‘arquivista’ e os demais interessados, ao mesmo tempo que fomenta uma reflexão sobre a relação de pertença com o termo ‘arte sonora’ e o papel do som em diferentes práticas artísticas.
O segundo elemento, chamado de ‘Diário, consiste num trabalho de campo (até meados de 2016) donde o ‘arquivista’ tenta capturar junto de uma seleção de artistas menor — refletindo uma diversidade geográfica e prática — relatos do fazer artístico no campo das ‘artes sonoras’. Este material é publicado em formato de blogue em paralelo ao mapa, auxiliado pela captura de outros materiais que retratem o processo criativo de cada artista: fotografias, textos, pautas, vídeos, gravações áudio.
As estratégias utilizadas e a forma como o projeto é apresentado, reflete a subjetividade do ‘arquivista’ e o seu posicionamento ideológico relativo ao imaginário conceitual e prático das ‘artes sonoras’. O título deste projeto elucida essa dimensão (com a inclusão do ‘possível) e explicita a natureza temporal deste trabalho.
‘Um possível arquivo de arte sonora brasileira realizado entre 2016-2017’
A articulação destes dois elementos (mapa/diário) articula uma dimensão crítica relativamente à ideia de arquivo como uma ferramenta de pesquisa: não só como um repositório de trabalhos, mas também como uma forma de fazer uma ‘arqueologia’ dos discursos, objetos e processos de diferentes artistas. Uma plataforma digital que aposta não só na catalogação, mas como também na discussão — um processo baseado na relação estabelecida entre o arquivista/artista. Do ponto de vista metodológico, a criação do arquivo é suportado por uma abordagem etnográfica: traçando ideias comuns ou padrões por entre conversas, materiais ou outros artefatos (livros, filmes, gravações sonoras ou fotografias) recolhidos durante o projeto. Isto permite não só uma compreensão de um possível discurso formal estético (individual/colectivo), mas também uma reflexão e contextualização desta temática dentro de uma arena cultural mais geral. O objetivo, é que através do mapeamento de determinadas ‘fazeres’, possamos permitir aos participantes/artistas — mas também a possíveis utilizadores — uma melhor compreensão dos termos culturais prevalentes.
Por fim, esta metodologia sustenta a criação de um relato histórico e crítico sobre o panorama atual de ‘arte sonora’. Porque Nendú também é Tupi para ouvir-se. Esse movimento de uma escuta a si mesmo, de uma tomada de consciência da existência de uma ‘voz’ serve de metáfora para um arquivo e reflexão que visa fazer uma contribuição para a constituição de uma historiografia e reflexão alternativa a narrativas focadas em realidades euro-americanas.
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Nendú – ‘Um possível arquivo de arte sonora brasileir@ realizado entre 2016-2017’ é um projeto de pós-doutorando realizado pelo Rui Chaves. Com apoio da FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) e com base no NuSom – Núcleo de Pesquisas em Sonologia.
Eu quero agradecer ao Fernando Iazzetta pelo seu apoio e orientação — tornando este projeto possível. Também quero mencionar o Christof Migone, pelas conversas que tivemos e que eventualmente moldaram algumas das metodologias usadas nesta pesquisa.